Reportagem Jornal Desportivo "A Bola - Outros Mundos" - 70 anos do Bairro da Boavista


Crianças pintaram a sua silhueta no Mural da História (foto ASF)



Boavista: Primeiro bairro social e municipal de Lisboa nasceu há 70 anos
Por Bruno Abreu


«É o meu bairro e não o trocava por nada». A frase foi diversas vezes repetida pelos moradores do Bairro da Boavista, em Lisboa. Aquele que é o bairro social e municipal mais antigo da capital comemora este fim-de-semana 70 anos de vida e poucos são aqueles que querem sair dali, especialmente os que lá nasceram e viveram a vida toda.


«Nasci aqui há 55 anos. Na altura o bairro estava todo asseado, as ruas ajardinadas...havia um fiscal para tomar conta do bairro e receber as rendas», conta Gilda Caldeira, presidente da associação de moradores de um bairro que, dizem, está isolado: por trás de Monsanto, a três quilómetros da junta de freguesia. Tudo isto o deixa esquecido pelo poder local, apesar de lá terem nascido filhos do bairro de nomeada, como os internacionais portugueses Maniche e o irmão Jorge Ribeiro, mais recentemente, ou Nelinho, extremo-direito do Benfica nos anos 70.


«Antigamente tínhamos o senhor Faquir que trazia o seu carrinho onde víamos filmes. Com um megafone também anunciava as novidades do bairro, como uma vez que apareceu aí a gritar que tinha nascido uma filha a alguém no bairro», recorda Gilda.


Ao seu lado, Joaquim Pinto, vice-presidente da associação, já faz parte da terceira geração de moradores, mas nem assim perde o entusiasmo pelo bairro da Boavista, fazendo questão de ter um blogue de divulgação das actividades do local onde nasceu. «Existe exclusão aqui, mas também actividades. Chegamos a pedir a artistas para residirem aqui dois meses, enquanto ensinam as crianças e no fim deixam uma obra de arte».


O bairro foi fundado, oficialmente, em 1941. Na inauguração estiveram presentes altas figuras do Estado Novo, como o marechal Carmona e o cardeal Cerejeira, mas desde 1938 que já era habitado. Os terrenos foram postos à disposição pelo conde do Bonfim e as casas foram feitas pela fábrica Lusalite, de fibrocimento. «De início as casas eram provisórias. Pareciam barracos e deviam durar 10 anos. Mas estiveram aí 40», afirma a presidente da associação de moradores. Hoje moram na Boavista cerca de nove mil pessoas.


De início a Boavista era um típico bairro lisboeta. «Como Alfama, só que aqui a construção é diferente e não há turistas», diz Joaquim Pinto. Entretanto o bairro foi mudando. De início toda a gente se conhecia «Podiamos deixar a porta aberta e andar na rua à vontade que não nos acontecia nada», recorda Gilda. «Era tudo muito familiar e toda a gente se conhecia e ajudava», acrescenta. Actualmente não é assim. Ainda há uns tempos uma idosa foi assalta e morta. Os jovens costumavam competir em campeonatos de atletismo e traziam taças para enfeitar as vitrines do Grupo Social e Desportivo do Bairro da Boavista (um dos dois clubes do bairro). Agora têm a droga. «A câmara realojou muita gente à força que veio de fora e agora isto já não é asseado, nem seguro», lamentam os moradores.


Este «esquecimento» por parte da câmara é a razão da maioria das queixas dos moradores que, dizem, só são ouvidos em tempo de campanha eleitoral, como aconteceu com as piscinas («um luxo»): «Quando construíram as piscinas fizeram uma inauguração. Depois outra na remodelação e outra mais tarde, tudo com presidentes da câmara diferentes», conta Gilda.


Pelo menos o pavilhão que ladeia as piscinas deu para promover o desporto. Futebol, atletismo, patinagem, natação, kickboxe são algumas dos desportos que se podem praticar na Boavista que é casa de dois clubes: o já falado Social e ainda o Clube Desportivo Lisboa e Águias, a colectividade mais antiga.


O Social funciona na antiga sede da Mocidade Portuguesa do bairro, local onde passavam filmes e se realizavam actividades para a população. Após o 25 de Abril, os moradores não quiseram ficar sem a colectividade e resolveram fundar um clube para ocupar as instalações. Nascia assim o Social, que equipa de amarelo e preto.


O Águias, mais antigo e equipado «à Benfica», nasceu em 1945. A rivalidade entre os dois clubes dentro do bairro é fervorosa. Enquanto nos mostrava a sede do social, Gilda afima: «Nunca visitei a sede do Águias, nem conheço aquilo». Questionado o porquê, responde de imediato: «Porque é rival do Social e eu sou do Social».


Veja as fotos: (António Azevedo/ASF)

Esta noticia foi retirada do site: Jornal Desportivo "A Bola"

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